sexta-feira, 19 de março de 2010

Sobre aquelas inversões de palavras em frases e que transformam o sentido original em algo novo e pseudo-cult-intelectual: (1) consigo ver a UERJ da janela do meu quarto; (2) consigo ver o Maracanã da janela do meu quarto e das janelas das salas de aula; (3) almoço praticamente todos os dias no restaurante popular - localizado no portão 15 do estádio.

A rota para almoçar é doutrinada: desço dez pisos pelas rampas da UERJ (o que me dá paisagens melhores do que me trancar em um elevador lotado - seja um dia chuvoso, o Maracanã ou o morro da Mangueira), e então passo pelo hall principal, pela concha acústica (é tão quadrada que é cruel chamá-la de concha), subo a rampa do metrô, pela avenida e desço de frente a uma das entradas do estádio Mário Filho (Maracanã, pra repetir mais uma vez a palavra). Ando por uns 400 metros (contados religiosamente pelas marcas da ciclovia que o circula) pra poder almoçar.

Na volta, atravesso pelo Centro de Vivência (onde os futebolistas deixam seus pés marcados), pelo lago e pela pista de atletismo - contornando-o.


Tô me acostumando a ver o Maracanã todos os dias, tomando nota de cada referência, decorando sua arquitetura coluna a coluna, passo a passo de azul e branco. E agora sim a inversão, que não é o cotidiano que acostuma o olhar - claro que não! Muito pelo contrário: o olhar acostuma o cotidiano (ver a mesma coisa repetidamente tira a unicidade de cada dia e a visão é a culpada por ser a mensageira da monotonia, e no final joga o peso da descoberta para outros sentidos (por exemplo, redescobrir a beleza visual de uma coisa por causa do barulho que faz ou do seu cheiro, como andar de madrugada pela rua e sentir o perfume de dama-da-noite para se lembrar que a planta existe - quase que dizendo "ei, olha pra mim" - tudo isso num dia corriqueiro qualquer). =P

Portanto, é o olhar que acostuma o cotidiano e sem vice-versa!

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