sexta-feira, 22 de novembro de 2013





terça-feira, 23 de março de 2010

Meu olhar desacostuma o cotidiano

As rotas dos dias eram doutrinadas (estilo Cotidiano do Chico Buarque). Segunda-feira, acordar às 7h, tomar banho (não muito rápido, para passar o sono, e não muito devagar, para não perder o ônibus), um rápido café da manhã, descer 21 andares, correr até o ponto de ônibus. Alguns bairros cariocas depois, chegava (sempre um pouco depois da hora da aula (9h30)) em Botafogo. Um intervalo e aula a tarde toda. Alguns minutos no ponto de ônibus e muitos minutos no trânsito depois, era só dar boa noite, passar pelos dois portões, subir 21 andares, tomar um bom banho seguido de um lanche (necessário), e me preparar fisiologicamente para a terça-feira.

Saía da cama às 6h. Depois, um banho mais corrido que o primeiro das segundas-feiras e desjejum nenhum. A partir daí, as terças eram quase a reprise do ontem. E assim sucessivamente (pelos dias úteis – mas não os que os fins de semana fossem tão diferentes uns dos outros). E já faz dois anos de Rio de Janeiro.

Morei 19 anos na mesma (pequena) cidade do interior de Minas Gerais. Destas quase duas décadas, foram 16 anos na mesma rua (em três casas diferentes, no entanto), e ainda me surpreendo em Carangola. O burródromo (é, um estacionamento de burros), dia cheio, dia vazio, dia fazendo frete das mais variadas tranqueiras. Os caminhos e as possibilidades incontáveis. Um ano em Muriaé (vivido como se fossem dez), e sinto ainda ter muito a ver por lá. Meu caminho de casa para a faculdade nunca foi o mesmo.

(Para quem não percebeu, nada de detalhes. Impossível concretizar a rotina se junto com cada dia vem a necessidade de uma nova observação)

Quando Carlos Maestre se mudou para o Rio de Janeiro (dia desses), fui levá-lo a um museu. Ele já havia morado nas redondezas do bat-local, mas não sabia se localizar ali. Eu, moradora distante, porém frequentadora assídua do nosso destino, decidi dar referências. Rua Dois de Dezembro. Prédio laranja, grande. Na rua do castelinho. Entre a Praia do Flamengo e a rua do Catete. Duas redes norte americanas de fast food. Perto de uma pizzaria amarela com vermelho. Em frente a uma vendinha de biscoitos e balas. Ao lado dos camelôs. (Ufa!). Meu calouro sugeriu uma árvore que eu – que sabia tantos pontos estratégicos – não lembrava nem de existir por ali. Uma árvore grande, cheia, verde, no meio da calçada, cercada por um largo banco de madeira. Eu nunca tinha visto. Ou preferi esquecer, só para ver de NOVO (com trocadilho, por favor). A vida é grande demais para nos acostumarmos, assim, com ela. E quando a situação fica extrema e parece que vai cair na rotina, minha máquina fotográfica impede que meu olhar cristalize e sucumba ao corriqueiro.

Portanto, nem o olhar e nem o cotidiano precisam ser acostumados como via de regra. Eu quero o novo, de novo (...)

sexta-feira, 19 de março de 2010

Como ser pseudo-cult-intelectual em 35 linhas

Bonjour le jour! Meu hoje poderia ter sido filmado e lançado como um grande intertexto misturando Amélie Poulain, Corra Lola Corra, Dogville, 5 centímetros por segundo (animação japa), Tempos Modernos e Naked (Mike Leigh) com cores Almodóvar.
Depois de acordar, ler Foucalt e refletir sobre a inexistência da verdade (enquanto tomava capuccino na rede em tie-dye da varanda), segui para os jornais. As usual, me irritei ao ver as palavras do mago (sic) Paulo Coelho. Tão óbvio. Ensaio minha cara blasé lendo O Manual do Guerreiro da Luz.
Fui até a Oi Futuro, exposição do Eduardo Kac. Ele faz biotopos, lagoglifos e artes transgênicas – gênio! O primeiro andar é super conceitual, o foco é a escrita coelhográfica. Imagens sobrepostas e um vídeo em looping eterno (ainda na coelhografia). Nos outros pisos acima, obras brilhantes que captam o âmago da subjetividade de Kac, e a intenção é bem clara.
Teatro. Ensaiamos todas as cenas e estamos afinados. Mês que vem O Beijo no Asfalto entra em cartaz. Tem gente que lembra que é a peça em que a Carla Perez fez a Selminha. Mas eu lembro que a Cristiane Torloni (que está em cartaz com A Loba de Ray-Ban) fez este papel incrivelmente crível na adaptação cinematográfica feita pelo Bruno Barreto (diretor de O que é Isso, Companheiro?). Saindo do teatro dei de cara com a Fernanda Montenegro (Claro que eu não verbalizei o que gritava dentro de mim (eu te amo! EU TE AMO! EU - TE - A- MO!!!). Sorri e disse, "Oi, Fernanda. Adoro seu trabalho!" E fui para casa escutando Virginie Ledoyen.
Depois de ler uma matéria da Bravo! (sobre a peça Roda Viva do Chico. Ah..., o Chico!), enviei um email para meu namorado, com uma foto nossa na frente do por do sol na Quai Voltaire (paralela ao Musée du Louvre). "We'll always have Paris". Pensei em postar online uns trechos do Casamento entre Céu e o Inferno (do William Blake) com o quadro O Grito (de Edvar Munch), mas me irritei com os twees e scraps que li por aí. Uma gente pseudo-cult-intelectual (que eu não aguento!), postando Milan Kundera, Orwell, exibindo conhecimento, forçando a barra... Fui assisitr Waking Life (que arrasa na fotografia e direção de arte).

Sobre aquelas inversões de palavras em frases e que transformam o sentido original em algo novo e pseudo-cult-intelectual: (1) consigo ver a UERJ da janela do meu quarto; (2) consigo ver o Maracanã da janela do meu quarto e das janelas das salas de aula; (3) almoço praticamente todos os dias no restaurante popular - localizado no portão 15 do estádio.

A rota para almoçar é doutrinada: desço dez pisos pelas rampas da UERJ (o que me dá paisagens melhores do que me trancar em um elevador lotado - seja um dia chuvoso, o Maracanã ou o morro da Mangueira), e então passo pelo hall principal, pela concha acústica (é tão quadrada que é cruel chamá-la de concha), subo a rampa do metrô, pela avenida e desço de frente a uma das entradas do estádio Mário Filho (Maracanã, pra repetir mais uma vez a palavra). Ando por uns 400 metros (contados religiosamente pelas marcas da ciclovia que o circula) pra poder almoçar.

Na volta, atravesso pelo Centro de Vivência (onde os futebolistas deixam seus pés marcados), pelo lago e pela pista de atletismo - contornando-o.


Tô me acostumando a ver o Maracanã todos os dias, tomando nota de cada referência, decorando sua arquitetura coluna a coluna, passo a passo de azul e branco. E agora sim a inversão, que não é o cotidiano que acostuma o olhar - claro que não! Muito pelo contrário: o olhar acostuma o cotidiano (ver a mesma coisa repetidamente tira a unicidade de cada dia e a visão é a culpada por ser a mensageira da monotonia, e no final joga o peso da descoberta para outros sentidos (por exemplo, redescobrir a beleza visual de uma coisa por causa do barulho que faz ou do seu cheiro, como andar de madrugada pela rua e sentir o perfume de dama-da-noite para se lembrar que a planta existe - quase que dizendo "ei, olha pra mim" - tudo isso num dia corriqueiro qualquer). =P

Portanto, é o olhar que acostuma o cotidiano e sem vice-versa!

quinta-feira, 18 de março de 2010

Deep into that darkness peering,
long I stood there wondering,
fearing,
Doubting,
dreaming dreams no mortal ever dared to dream before

Edgar Allan Poe

Reclame

se o mundo não vai bem
a seus olhos, use lentes
... ou transforme o mundo.
ótica olho vivo agradece a preferência

20 anos recolhidos
chegou a hora de amar desesperadamente
apaixonadamente
descontroladamente
chegou a hora de mudar o estilo
de mudar o vestido
chegou atrasada como um trem atrasado
mas que chega

Chacal

e quando o machão volta para a prateleira e demora mais do que os dois bobos sem ar?
Claro! E dois bobos que demoram mais de 20 minutos para escolher um chocolate ao leite ficam rindo desesperadamente e sem ar!
se tivesse uma prateleira de cores de fontes aqui, certamente algum machão passaria e pegaria – agilmente – uma.