terça-feira, 23 de março de 2010

Meu olhar desacostuma o cotidiano

As rotas dos dias eram doutrinadas (estilo Cotidiano do Chico Buarque). Segunda-feira, acordar às 7h, tomar banho (não muito rápido, para passar o sono, e não muito devagar, para não perder o ônibus), um rápido café da manhã, descer 21 andares, correr até o ponto de ônibus. Alguns bairros cariocas depois, chegava (sempre um pouco depois da hora da aula (9h30)) em Botafogo. Um intervalo e aula a tarde toda. Alguns minutos no ponto de ônibus e muitos minutos no trânsito depois, era só dar boa noite, passar pelos dois portões, subir 21 andares, tomar um bom banho seguido de um lanche (necessário), e me preparar fisiologicamente para a terça-feira.

Saía da cama às 6h. Depois, um banho mais corrido que o primeiro das segundas-feiras e desjejum nenhum. A partir daí, as terças eram quase a reprise do ontem. E assim sucessivamente (pelos dias úteis – mas não os que os fins de semana fossem tão diferentes uns dos outros). E já faz dois anos de Rio de Janeiro.

Morei 19 anos na mesma (pequena) cidade do interior de Minas Gerais. Destas quase duas décadas, foram 16 anos na mesma rua (em três casas diferentes, no entanto), e ainda me surpreendo em Carangola. O burródromo (é, um estacionamento de burros), dia cheio, dia vazio, dia fazendo frete das mais variadas tranqueiras. Os caminhos e as possibilidades incontáveis. Um ano em Muriaé (vivido como se fossem dez), e sinto ainda ter muito a ver por lá. Meu caminho de casa para a faculdade nunca foi o mesmo.

(Para quem não percebeu, nada de detalhes. Impossível concretizar a rotina se junto com cada dia vem a necessidade de uma nova observação)

Quando Carlos Maestre se mudou para o Rio de Janeiro (dia desses), fui levá-lo a um museu. Ele já havia morado nas redondezas do bat-local, mas não sabia se localizar ali. Eu, moradora distante, porém frequentadora assídua do nosso destino, decidi dar referências. Rua Dois de Dezembro. Prédio laranja, grande. Na rua do castelinho. Entre a Praia do Flamengo e a rua do Catete. Duas redes norte americanas de fast food. Perto de uma pizzaria amarela com vermelho. Em frente a uma vendinha de biscoitos e balas. Ao lado dos camelôs. (Ufa!). Meu calouro sugeriu uma árvore que eu – que sabia tantos pontos estratégicos – não lembrava nem de existir por ali. Uma árvore grande, cheia, verde, no meio da calçada, cercada por um largo banco de madeira. Eu nunca tinha visto. Ou preferi esquecer, só para ver de NOVO (com trocadilho, por favor). A vida é grande demais para nos acostumarmos, assim, com ela. E quando a situação fica extrema e parece que vai cair na rotina, minha máquina fotográfica impede que meu olhar cristalize e sucumba ao corriqueiro.

Portanto, nem o olhar e nem o cotidiano precisam ser acostumados como via de regra. Eu quero o novo, de novo (...)

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